terça-feira, 15 de janeiro de 2013

BOLA AO MEIO: Um clássico de emoções





Estádio quase cheio para assistir a um dos jogos mais esperados da época. Benfica-Porto, um clássico que teve o seu primeiro embate em 1931 com a vitória do Benfica por 3-0. Já lá vão 81 anos e muita coisa mudou pelo meio. O futebol português cresceu e a rivalidade foi fomentada entre estes dois clubes.

Este domingo Benfica e Porto voltaram a encontrar-se para mais um jogo do campeonato. Portugal parou para ver as duas melhores equipas portuguesas da actualidade.

Como é habitual irei manter-me afastado de questões de arbitragem e irei focar as minhas atenções no capítulo táctico.

Momentos do jogo


O Benfica até era considerado favorito por jogar em casa e pelo bom momento de forma que atravessava mas foi mesmo o Porto que começou melhor. Mais pressionante, mais agressivo e com mais vontade. Esta atitude tomou de surpresa a equipa benfiquista que entrou claramente mais nervosa e impaciente, acusando a pressão exercida pela equipa do Porto. Fruto disso, o Porto chegou à vantagem por intermédio de um lance de bola parada com Mangala a finalizar aos 8 minutos sem qualquer oposição. Foi preciso o Benfica sofrer para despertar para o jogo. Passados 2 minutos, Matic num remate de primeira fez o golo (e que golo!) do empate. O Benfica após o empate esteve um período por cima do jogo mas Artur ofereceu de bandeja o 2-1 a Jackson, onde o colombiano não se fez de esquisito e aproveitou a oferta. Contudo, a equipa encarnada não demorou novamente a reagir e passado 2 minutos Gaitán reestabeleceu a igualdade. 20 minutos frenéticos com 4 golos à mistura. A partir daí o jogo equilibrou-se e ganhou contornos tácticos com ambas as equipas a saberem anular-se. A única ocasião de golo tendeu para o Benfica quando Cardozo frente-a-frente com Helton, permitiu que o guarda-redes brasileiro levasse a melhor ao fazer uma grande defesa. Ou seja, assistimos a 3 períodos distintos. 1) 20 minutos loucos com o Porto a entrar melhor e o Benfica a responder sempre bem aos golos. 2) Porto mais controlador até ao intervalo e a gerir o jogo à sua maneira. 3) Uma segunda parte mais calma e com ligeiro ascendente do Benfica principalmente nos minutos finais que coincidiu com a entrada de Aimar e Carlos Martins. Um Benfica competente a atacar e a conceder alguns espaços defensivamente contra um Porto maduro em termos defensivos e pausado no que toca a questões ofensivas, à espera do momento certo para penetrar em zonas de finalização. O empate, justo, a 2 bolas leva a que Benfica e Porto continuem imbatíveis na liga.


Organização defensiva



Porto muito compacto do ponto de vista defensivo, uma imagem de marca que vem desde os tempos de Mourinho. Alex Sandro, Otamendi, Mangala e Danilo cumpriram e bem as suas funções. Neste Porto não faz sentido falar de organização defensiva sem antes começar por Jackson Martínez. O ponta-de-lança colombiano é o primeiro homem a defender, uma máxima defendida por Cruyff no seu livro "Me gusta el futbol" onde afirma que Romário era o seu homem mais defensivo no Barcelona pelo seguinte motivo: “ele tinha de pressionar o guarda-redes de forma a permitir que a defesa avançasse 10 metros. Se ele estivesse a dormir ou a lamentar-se, ou a queixar-se do árbitro, e perdesse a concentração, permitia que o guarda-redes subisse até à linha de área e toda a equipa tinha de recuar. Se, por outro lado, ele estava activo e pressionava o guarda-redes, isso dava-nos uma vantagem decisiva, já que o espaço se reduzia e as linhas voltavam a juntar-se”. Jackson aplicou este conceito e foi graças a ele que o Porto conseguia pressionar alto e encurtar os espaços do Benfica. Para além de Jackson, Lucho também chegou muitas vezes à frente a pressionar o portador de bola na primeira fase de construção do Benfica e isso proporcionou o erro de Artur no segundo golo do Porto. Do outro lado, o Benfica foi muito mais passivo neste capítulo com Melgarejo, Garay, Jardel e Maxi a comporem o quarteto defensivo. A equipa de Jorge Jesus deixou o Porto jogar e apenas pressionava com mais agressividade no seu meio-campo defensivo de forma a não descurar a sua defensiva.


Organização ofensiva



A equipa da casa apostou no seu habitual 4-1-3-2, sendo que em processo ofensivo o Benfica perdeu um pouco a sua identidade, fruto do trabalho defensivo exercido pelo Porto como já expliquei atrás. Já o Porto apostou num 4-3-3 que alternava em 4-4-2 losango quando Defour fechava no meio a formar um quarteto o que também permitiu a Danilo que subisse no terreno e desequilibrasse. Jackson e Varela tentaram aproveitar o espaço deixado entre Jardel e Maxi e servirem-se do mau momento de forma que o lateral-direito atravessa. Gaitán e Salvio abriram nas alas e tentaram alargar o jogo para abrir espaços. O Porto esteve bem a bascular e a virar o sentido de jogo, algo que o Benfica teve alguma dificuldade em fazer.
A estratégia defensiva do Porto levou a que o Benfica se readaptasse. A pressão exercida pelos azuis e brancos fez com que o Benfica não conseguisse implementar o seu futebol apoiado e vertical, o que obrigou a equipa de Lisboa em algumas situações a jogar futebol directo à procura da velocidade de Gaitán e Salvio. O Benfica conseguiu fechar bem os caminhos da baliza o que também fez mudar as ideias de jogo do Porto. Ao permitir que o Porto tomasse iniciativa do jogo por intermédio dos seus jogadores mais recuados, levou a que faltasse criatividade e capacidade de definição. Muitas vezes vimos Otamendi e Fernando a apostarem, também eles, em bolas longas nas costas da defesa encarnada. Dois 'futebóis' distintos que tiveram de ser modificados face às estratégias utilizadas por cada técnico. Um Benfica com dois homens mais ofensivos e como referências ofensivas, dois extremos apoiados por dois laterais ofensivos e ainda um médio de transição. O Porto optou por reforçar o meio-campo e com isso ter o controlo do jogo em certos períodos. Uma referência ofensiva, um extremo, um médio-direito que fechava no centro, um médio de transição e um médio organizador.


Transição defensiva



Ambas as equipas conseguiam reequilibrar-se em transição ofensiva com um maior ascendente de dificuldade por parte do Benfica onde Gaitán e Salvio demoravam algum tempo no apoio a Melgarejo e Maxi, respectivamente. Do lado contrário, Varela e Defour estiveram bem a recuperar posição e a ajudarem Alex Sandro e Danilo. Tratam-se de jogadores diferentes com outro tipo de rigor táctico. Varela e Defour possuem outra cultura táctica que Salvio e Gaitán não têm em termos defensivos e isso tornou-se fundamental na forma como o Porto rapidamente se reposicionava defensivamente e evitava que o Benfica saísse rápido.


Transição ofensiva



O Benfica apostou quase sempre em lateralizar o seu jogo e o seu momento de transição ofensiva também passou muito por aí. A equipa de Jorge Jesus decidiu apostar na imprevisibilidade e velocidade de Gaitán e Salvio, uma vez recuperada a posse de bola. Já o Porto de Vítor Pereira nunca optou pelo contra-golpe como o Benfica o fez por intermédio dos já citados Salvio e Gaitán. A equipa azul e branca preferiu investir num futebol mais pautado, pensativo e inteligente, privilegiando a posse de bola e a busca de espaços para penetrar. Ou seja, não assistimos a um futebol desenfreado por parte do Porto quando recuperava a posse de bola ao contrário do Benfica que tentava lançar Gaitán que flectia para o centro do terreno para pegar no jogo e também permitir a Melgarejo aparecer-lhe nas costas, isto com Matic a incorporar o ataque e a tentar entregar numa das faixas.


Bolas Paradas



Um capítulo onde o Benfica é particularmente forte tanto a nível ofensivo como a nível defensivo. Em termos defensivos o Benfica consentiu um golo de bola parada (8' por Mangala) com o francês a aparecer sozinho a cabecear. Já o Porto permitiu ao Benfica empatar o jogo num lance de bola parada, com os seus jogadores a ver Cardozo, Jardel e Matic a jogarem futevólei até que o sérvio rematou à meia-volta, um golo que se candidata a um dos melhores desta temporada. Porto e Benfica fortes a nível ofensivos e a nível defensiva, ambas as equipas mostraram algumas debilidades no que toca às marcações e concepção de espaços.


Destaques


Helton e Artur foram dois dos destaques desta partida, por motivos bem diferentes. Helton foi o primeiro guarda-redes a mostrar algumas debilidades com o jogo de pés, ao atrapalhar-se numa jogada com a pressão de Cardozo. Um erro menor comparado com o de Artur que ofereceu o golo a Jackson Martinez. Contudo, Artur foi dos jogadores do Benfica com maior % de acerto de passes. Noutro contexto, Fernando e Matic encheram o meio-campo da sua respectiva equipa. O brasileiro e o sérvio ganharam algum relevo ofensivo, o primeiro porque Lima nunca conseguiu acompanhar os seus movimentos e travar a sua incorporação ofensiva e o segundo porque é um jogador de inegável qualidade técnica para um número 6, o que é aproveitado por ele quando obtém alguma liberdade para atacar e impulsionar o Benfica para o ataque. Os dois conseguiram compensar e dobrar bem os seus companheiros e ainda tornaram-se numa unidade adicional em processos ofensivos. Jardel e Alex Sandro também estiveram em destaque. O central brasileiro pela segurança defensiva que transmitiu ao Benfica e o lateral-esquerdo pela forma como integrou o ataque.




3 comentários:

Anónimo disse...

como é que é possivel fazer-se uma analise deste tamanho a este jogo, e não mencionar a exibição do mangala, que foi claramente o melhor em campo, um verdadeiro monstro.
Outra coisa isto é um artigo oficial de uma revista com certa importância a nível nacional, certo? o que me leva a perguntar que raio de frase é esta?
''...mas Artur ofereceu de bandeja o 2-1 a Jackson ONDE o colombiano não se fez de esquisito e aproveitou a oferta''
...mas o português morreu de vez? já nem conectores sabem usar?

Francisco Gomes da Silva disse...

Boas caro anónimo, agradeço a leitura da crónica. Em relação à exibição de Mangala, reconheço que foi dos melhores em campo mas como teve oportunidade de ler optámos por fazer referência aos 2 guarda-redes, 2 médios-defensivos e a 2 elementos da defesa, do lado do Benfica o Jardel e do lado do Porto o Alex Sandro que até foi considerado o homem do jogo. Isto sem tirar mérito ao Mangala que este intransponível o jogo todo. Fiz referência ao Alex Sandro mas poderia ter abordado a exibição do Mangala. Em relação à frase não sei onde está a dúvida.

Anónimo disse...

Como é possível ver um jogo de futebol, achar que se percebe de futebol e dizer que Mangala jogou melhor que Matic?

Há gente que devia mesmo fazer um transplante de córnea (ou mesmo de miolos).