sábado, 6 de novembro de 2010

A Voz da Experiência: Mário Jardel

De pé esquerdo, de pé direito, de calcanhar, de bicicleta, de «letra», de cabeça. Especialmente de cabeça. O futebol português nunca conheceu - talvez nunca voltará a conhecer - um goleador como Mário Jardel o foi. Já com 37 anos, o histórico goleador de FC Porto e Sporting continua a facturar em solo europeu, desta feita na Bulgária. O fim da «era Jardel» já há muito foi anunciada; mas muitos antes disso, já «Super Mário», com o eterno #16 nas costas, tinha gravado o seu nome no futebol português. Nome esse que recordemos na Voz da Experiência desta semana.

O início e a «dupla infernal»
Mário Jardel deu os seus «primeiros toques» no Ferroviário, tendo cumprido todos os escalões até aos juvenis no clube. Curiosamente, o brasileiro chegou a actuar como guarda-redes, mas cedo se percebeu que o seu lugar - embora fosse mesmo dentro da área - não era na baliza. Jardel estreou-se como profissional ao serviço do Vasco, onde conseguiu a apetecível marca de 22 tentos em 39 partidas.

Apesar do bom momento no Vasco, um desentendimento com os responsáveis pelo clube fez com que o ponta-de-lança fosse cedido ao Grémio. Foi no clube então treinado por Luíz Filipe Scolari que foi criada a «regra» que também foi adoptada pelo FC Porto, Galatasaray e Sporting: jogar para o «Super Mário». Em ano e meio ao serviço do Grémio, Jardel fez 67 golos em 73 partidas, conseguindo a impressionante média de 0,92 golos por jogo. Para estes números muito contribuiu Paulo Nunes, atacante brasileiro que formou com Jardel uma dupla lendária no futebol brasileiro, ainda hoje recordada e idolatrada pelos adeptos do Grémio.

O Grémio fez tudo para garantir Jardel a título definitivo, mas para tal teria de pagar ao Vasco uma verba equivalente a 1,3M€, valor que, na altura, era considerado astronómico e impensável. Sem condições para garantir o concurso do atacante brasileiro, o Grémio acabou por ver Jardel sair para o FC Porto, que pagou ao Vasco cerca de 2M€ pelo jogador. 

O «Super Mário» das Antas
Foi ao serviço do FC Porto que Jardel se notabilizou no futebol europeu. Nas quatro épocas em que vestiu de azul e branco, o goleador facturou por 130 vezes no campeonato nacional, tendo disputado 125 partidas. Para estes números muito contribuíram Nuno Capucho e Drulovic, antigos extremos do FC Porto, que coleccionavam assistências para os desvios vitoriosos do lendário brasileiro. Na Liga dos Campeões, Jardel sagrou-se o melhor marcador da competição em 99/2000, com o registo de 10 golos.

Para o seu palmarés colectivo, Jardel conseguiu um tri-campeonato (96-99), duas Taças de Portugal (97/98 e 99/00) e uma Supertaça de Portugal (96/97). Os seus golos também conseguiram várias distinções a nível europeu, destacando-se o título de melhor marcador da Europa em 1999, com 36 golos. Antes disso, o goleador já tinha conquistado uma bota de prata (30G), conquistando depois, em 2000, uma bota de bronze (38G). Depois de quatro anos fazendo história no Estádio das Antas, 16 milhões de euros levaram Mário Jardel para a Turquia, para jogar no Galatasaray.

Turquia: Golos, história e adeus
Mário Jardel foi recebido pelos adeptos do Galatasaray num clima de apoteose total, até porque o clube turco acabara de ganhar o Campeonato da Turquia, a Taça Nacional e a extinta Taça UEFA. Logo na sua estreia no campeonato, Jardel fez nada mais, nada menos que cinco golos, aos quais juntou mais 17 no decorrer do campeonato, sagrando-se artilheiro da competição com 22 tentos em 24 partidas. Para a história fica a vitória do Galatasaray na Supertaça Europeia frente ao Real Madrid, onde os turcos venceram por 2-1... com dois golos de Jardel.

O Dragão voltou... para ser Leão
O regresso de Jardel ao futebol português, ainda hoje, gera muita discórdia entre as fontes de comunicação. Rezam as histórias que Mário Jardel aterrou no aeroporto Sá Carneiro com o cachecol do FC Porto ao pescoço, que se preparava para ceder ao Galatasaray os passes de Ricardo Costa, Alenitchev e Chaínho, mais uma verba de 8 milhões de euros, para garantir o regresso do goleador.

«Está tudo certo. Vou direitinho para o Porto quinta-feira, só falta arrumar as malas», disse o próprio Jardel, em declarações à imprensa desportiva. Contudo, o «Porto» era o aeroporto, não o clube. Octávio Machado, ex-treinador do FC Porto, é ainda hoje apontado como um dos responsáveis pelo insucesso do negócio, uma vez que o técnico terá preterido o ponta-de-lança. Numa entrevista à imprensa portuguesa, em 2005, Jardel quebrou o silêncio e garantiu que recusou uma proposta milionária do Marselha para jogar no FC Porto.

Desde a saída de Jardel das Antas que o Benfica era apontado como um crónico destino do Benfica, tendo sido inclusive o «trunfo» de campanha de Manuel Vilarinho. O goleador foi dado várias vezes como certo na Luz, e a verdade é que o goleador acabou mesmo por rumar a Lisboa... mas para jogar no Sporting. O próprio Jardel admitiu várias vezes à imprensa que jogar no Benfica teria sido do seu agrado, mas tal nunca se concretizou.

O «triplete» de verde-e-branco
Então ao serviço do Sporting, na época 2001/02, Mário Jardel fez uma época de sonho. Conseguiu o exorbitante registo de 42 golos em 30 partidas, embora  16 dos quais tivessem sido conseguidos na conversão de grandes penalidades. Estes números valeram-lhe o título de melhor marcador da Europa e a consequente distinção de «bibota» de ouro. Colectivamente, «Super Mário» conquistou Taça, Supertaça e Campeonato, o último que o Sporting venceu até à data.

Para a história, ficou a dupla que Mário Jardel constituiu com João Vieira Pinto. O «grande artista» foi o maior responsável pelos números conseguidos pelo ponta-de-lança, fartando-se de servir o brasileiro na grande área adversária. Na torcida leonina, muitos chegaram a considerar que nem Peyroteo - melhor marcador de sempre em Portugal - conseguiu uma época como a de Jardel.

Na segunda época as coisas complicaram-se e Jardel deixou de ser «Super». Jogou a espaços na equipa do Sporting e fez a sua época menos produtiva na Europa, facturando apenas por 11 vezes e participando em 19 encontros para o campeonato. O cenário anunciado confirmou-se: era o fim de Jardel entre os «grandes». O Bolton foi o destino.

Inglaterra, Itália, França, Espanha...
Desde a saída do Sporting, Mário Jardel já vestiu 15 (!) camisolas diferentes. No Bolton, o goleador - ou pelo menos era-o até ali - nem facturou uma única vez nas sete partidas que disputou, tendo por isso sido cedido ao Ancona (Itália) no mercado de Inverno. Em território transalpino, jogou apenas quatro vezes e não balançou uma única vez as redes adversárias. 

Falhadas as experiências em Inglaterra e Itália, Jardel deixou a Europa e tentou a sua sorte em solo Argentina, ao serviço do Newell's Old Boys. Antes disso, o brasileiro chegou a ser cedido ao Palmeiras, mas foi rapidamente dispensado pelo clubes brasileiro, não tendo sido sequer utilizado. Na Argentina, Jardel conquistou o Torneio de Abertura, mas realizou apenas três jogos pelo clube... e mais uma vez não marcou. 

Já em 2005, Jardel regressou à Península Ibérica, desta vez para jogar em Espanha, ao serviço do Aláves, então na Série B. Nem chegou a calçar as chuteiras, uma vez que não foi sequer inscrito pelo clube espanhol. De malas feitas, Jardel mudou-se para Nancy, em França, mas fez apenas três treinos à experiência e foi dispensado. Antes do fecho de mercado de transferência nos principais campeonatos europeus, Jardel chegou a acordo com os turcos Ankaraspor, tendo o clube inclusive confirmado a sua contratação, mas o ponta-de-lançar perdeu o voo que o levaria à Turquia e não foi inscrito a tempo.

Sem clube na Europa, Jardel regressou ao seu país natal, onde esteve durante um ano e três meses ao serviço do Goiás, embora a maior parte do tempo passado no Brasil tenha sido em busca de uma condição física que não conseguiu recuperar.

O regresso a Portugal
Em Julho de 2006, Jardel era anunciado como reforço do Beira-Mar, embora a sua contratação tenha sido de extrema dificuldade, uma vez que o jogador adiou várias vezes a sua apresentação em Aveiro. De regresso aos palcos lusitanos, Jardel fez apenas três golos em 11 jogos, um dos quais logo na estreia ao serviço dos aveirense, através... de um cabeceamento. Visivelmente sem condições físicas para garantir rendimento em Portugal, Jardel foi dispensado pelo Beira-Mar e mudou-se para o Chipre. Lá, facturou por três vezes e conquistou uma Taça do Chipre, mas, mais uma vez, acabou dispensado.

Austrália e, novamente, o Brasil
De costas voltadas com o futebol europeu, Mário Jardel não hesitou, em Agosto de 2007, em mudar-se para a Austrália. O Newcastle Jets acolheu o atacante, mas a carreira de Jardel no continente australiano durou apenas cinco meses. Fez onze jogos, não marcou qualquer tento e foi dispensado. O anúncio do fim da sua carreira era especulado diariamente, mas Jardel insistia em tentar recuperar a sua forma física e voltar a ser «Super Mário». Entre 2008 e 2010 jogou no Cricíuma, no Ferroviário, no Ceará e no Flamengo-PI. Marcou apenas ao serviço dos dois primeiros: duas vezes pelo Cricíuma, seis pelo Ferroviário.

Por fim, a Bulgária... e o golo!
Em Junho de 2010, poucos acreditavam que o nome de Mário Jardel voltaria a ser inscrito por algum clube europeu. Contudo, o Cherno More, equipa da Primeira Liga da Bulgária, acenou com um contrato apetecível, que permitira a Jardel tentar novamente a sua sorte em solo Europeu. O lendário ataque aceitou e regressou ao continente que durante anos o idolatrou.

Com algumas melhorias físicas e alguns quilos a menos, Mário Jardel tem conseguido jogar com maior regularidade. Embora ainda não tenha sido titular, foi suplente utilizado seis vezes nos oito jogos já realizados na Bulgária. O primeiro golo ainda tardou, mas aconteceu finalmente no passado fim-de-semana. O Cherno More recebia o Lokomotiv de Sófia e o nulo persistia, com Jardel sentado no banco. Com uma hora de jogo, o técnico dos visitados optou por lançar o ponta-de-lança para a grande área adversária e, cinco minutos depois, Jardel voltou a ser «Super» e cabeceou para o fundo da baliza adversária, dando os três pontos à sua equipa.

Seis meses para o final da carreira... em Portugal (?)
Ao longo dos seus melhores anos, Mário Jardel sempre teve uma constante: a pontaria na baliza adversária. Contudo, nos últimos anos, o seu discurso de constante tem tido pouco, uma vez que o jogador tem revelado diversas vontades. Ora veja-se...

Desde que abandonou o Sporting, Jardel sempre expressou o seu desejo em jogar no Benfica, afirmando por diversas vezes que acabaria por rumar à Luz. Numa entrevista ao jornal 'OJogo', inclusive, o ex-internacional canarinho afirmou que rescindiu com os leões para ir para a Luz. Tal nunca aconteceu, apesar das várias manifestações públicas do jogador. 

Em Dezembro passado, numa entrevista à imprensa brasileira, Jardel afirmou querer terminar a carreira no Grémio. Mais recentemente, em entrevista à imprensa portuguesa, Jardel disse que o seu desejo passa por jogar seis meses no FC Porto e retirar-se do futebol profissional no final da época. Nessa mesma intervenção, afirmou que já acordou com Jorge Nuno Pinto da Costa a realização de um jogo de despedida no Dragão, embora nada esteja oficializado.

Sem aparente hipótese de ingressar no Dragão, existem outros destinos possíveis para Jardel regressar a Portugal. A garantia foi dada pelo próprio, numa entrevista à Rádio Renascença, que afirmou ter "propostas de clubes da primeira e da segunda divisão", sem querer mencionar nomes. O seu futuro é ainda uma incógnia, mas Mário Jardel já afirmou publicamente que pretende trocar de clube no mercado de Inverno, uma vez que o campeonato Búlgaro vai sofrer uma pausa de dois meses, factor que é do desagrado do jogador. 

Apesar de todas as incógnicas sobre o seu futuro e polémicas sobre o seu passado, sobre Mário Jardel haverá sempre uma certeza: é, e sempre será, uma lenda do futebol português. Os adeptos agradecem.

3 comentários:

Sportinguista de Alma e Coração disse...

Jardel se tivesse uns kilos a menos faria grande dupla com o Incrível Liedson.

Petra disse...

Excelente artigo, adorei! A voz da experiencia e o ainda se lembra deviam sair na revista! Fica aqui o conselho!

j.gigante disse...

nunca te vou esquecer, foste gigante no meu sporting!!!!!!!!!!tenho mtas saudades tuas!!!!!!!!!j.gigante,és o maior !!!!!viva o sportingggg